sexta-feira, 14 de novembro de 2014

ADVERTÊNCIA (PARA MAIORES DE 18 ANOS)



Atenção ao deitar-te na cama com um poeta!

Ele é tão comum como os outros.

Os beijos podem ser quentes ou insossos,

Haverá êxtase ou descontentamento.

Diálogos sem fim podem ser travados

Ou a linguagem plena do corpo dominará a madrugada.

Mas atenção, um só detalhe:

Embora a noite se sucumba,

Antes disso,

Se tiveres os olhos d'alma

Talvez te permitas velejar

Na captura leve, doce,

Ensandecida,

Como nunca te sentiras antes.

E, nesse céu, onde os gostos assumem outras intensidades,

Para sempre te percas.





Hérlon Fernandes Gomes


14 de novembro de 2014.


P.S.: Como é bom quando as madrugadas nos enfeitiçam.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

OLHARES, RELÂMPAGOS, AÇOITES



Eu posso imaginar a umidade do teu perfume nu sobre a cama e a maciez da tua pele leitosa a iluminar a penumbra.

Eu desconfio que teu gozo acontece de olhos fechados, enquanto sorris de êxtase para o mundo.

Suponho que, nesse prazer, existe um silêncio de tua presença a dizer tanto de ti mais que se me descrevesses teus sentidos.

Ensaio meus dedos no ar, como a acariciar tua nuca e espalhar o feitiço dos teus cabelos negros pela madrugada...

Ah, se teus olhos pousassem nos meus, um pouco além do que um relâmpago de açoite, eu me instalaria para sempre em ti, penetrando teu insondável íntimo, e te roubaria para a terra da liberdade, onde pecado é ter medo de ser feliz.

***

Não haverá canto do teu corpo que eu não desvende com meus beijos;

Não transcorrerá segundo vago entre nós que eu não preencha de doçura, de quenturas, eternidades e explosões de encanto.


Hérlon Fernandes Gomes
29 de Maio de 2014.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

FAXINA NA ALMA





Todos temos dias cinzas, de silêncios de chumbo, de choros escondidos debaixo do chuveiro, por trás dos óculos escuros. Sim, todos temos dores inconfessáveis, frustrações que se acumulam pelos cantos da alma. O que precisamos fazer é afogar tudo isso, por mais que não se possa, com truques de mágica, fazer sumir esses escombros de nós. Passemos, portanto, nossa vassoura, nem que seja timidamente, nessa sujeira. Não acumulemos nossas lamúrias; não transformemos nossas angústias em bibelôs de estimação, nem exibamos nosso sofrimento só para mendigar um carinho qualquer. Não existe luz em nós quando nos cobrimos de sombras. Mantenha os óculos escuros, chore sozinho debaixo do chuveiro e mate suas dores de desprezo! Sempre existirão fagulhas de esperança e força no nosso íntimo, capazes de nos despertar para o inconcebível de nós mesmos.




Hérlon Fernandes Gomes

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

FOGO-FÁTUO


As paredes me assombram com o eco de tuas palavras,

O chão está coberto da areia dos teus sapatos

E eu tenho medo e preguiça de varrer o que restou de ti.

Os lençóis me iludem com o teu cheiro natural,

E a cama nunca foi tão grande e insone. 

Meu corpo está marcado por teus beijos e carícias, 

Arrepio-me quando me toco ao relembrar nosso ritual de amor.

***

O relógio se cansa para calcular o tempo que nos separa, 

É preferível contemplar as estrelas

A medir florestas e desertos que nos distanciam.

Ainda assim, é tudo tão vivo de presente,

É tudo tão doce e palpável 

Que esse futuro adiado me anima,

Esse destino de degredo não me desola.

Eu me cubro de esperanças,

Aceito viver de lembranças 

E me acorrento aos fantasmas que restaram de ti.


Hérlon Fernandes Gomes, Lúmen. 

P.S.: Este foi o último poema de Lúmen, uma das coisas mais verdadeiras que gostei de escrever.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

PASSIO



A cegueira da paixão,


Aquela inconsequente e suicida,


De entrega absoluta, de irresponsável senso...


Temo que as frestas de minha visão estejam destrancadas
E agora, de olhos abertos,


Eu não consiga mais mergulhar nesse abismo sem fundo, de tantos perfumes e sensações devastadoras.


Já quebrei todos os meus ossos


E chorei todos os rios de desilusão.


A cegueira se dissipou e me atracou no cais,


Onde os pés se fincam firmes


E a razão é meu império de conforto.


Meu coração sente falta da deriva do desejo,


Do desconforto da espera,


Do alvoroço do encontro.


***


Meu coração jovial sabia ter cor na guerra.



Hérlon Fernandes Gomes, 12 de Janeiro de 2014.



O olhar de Glauber Oliveira, talentoso fotógrafo brejossantense, tem-me inspirado a mergulhar no imaginário dessas fotografias.