domingo, 14 de abril de 2013

BREJO SANTO




É aqui onde me ajoelho e beijo a terra,

Corpo da metafísica enigmática da semente.

É nesta terra onde sepulto silenciosamente meus dramas

Porque ela me conhece as linhas do coração

Como o sabe o quilate dos seixos enveredados de onde persigo.

É aqui onde me dispo, porque aqui aprendi a ser nu,

Natural como os marmeleiros que perfumam as cercas,

Livre como a luz, inconsequente ao invadir a escuridão.

É aqui onde não me perco, porque todos os ventos me são cúmplices,

O tempo me entrega os ponteiros e eu escolho as eras:

Visito praças em que ainda sou menino,

Enceno em palcos que me quis artista

Brindo em copos com quem só fui festa.

É aqui a estação de onde mais me dói partir

Porque minha mãe me acena distante do trem

Enquanto me abençoa os sonhos e me prediz o melhor futuro.

É aqui onde me reconheço e por isso retorno

Quando a essência de mim sugere se esquecer

Então eu volto em busca dos originais contornos

Ao som das zabumbas, com gosto de peroba,

Esquecido de angústias, animado de encantos.

***

É aqui onde me ajoelho e beijo a terra,

Porque esse chão me sabe ser firme e santo.



Hérlon Fernandes Gomes


14 de Abril de 2013

É a primeira coisa que escrevo assim diretamente sobre minha terra. Hoje estava lendo Drummond, num famoso poema em que ele relembra sua cidade mineira: "Itabira é apenas um retrato na parede, mas como dói". Revendo fotografias e memórias, bateu-me essa dor de saudade e então me dei conta do quanto Brejo Santo é importante para mim como ser humano, porque é minha raiz, foi daí de onde recebi as primeiras impressões do mundo. Felizmente, Brejo Santo não é somente um retrato na parede. Retorno sempre que possível e me sinto sempre mais revigorado e mais certo de mim. Um abraço a todos os conterrâneos. Saudade é minha canção recorrente. 

Especialmente, esta fotografia de Glauber Oliveira me serviu de combustível catalisador no caminho desse poema fácil, porque presente singelo e sincero da alma. Continue imprimindo seu olhar poético pelos recantos do nosso torrão, amigo!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

CLAMOR DE INSPIRAÇÃO







Eu me deito, sem sono


E espero que me visites,


Espero que me preenchas


E me pintes com ideias claras.


Eu me levanto e rodeio os cômodos


Enquanto aguardo tua iluminação perene,


Teu lampejo de conforto


Que me ponha útil nesse ofício sem capital


- a poesia.


Eu te procuro entre cafés amargos,


Sob estrelas distantes, entre esferas vagas.


Eu te entrego tudo o que sou:


Inspiração, desassossego da carne, jardim bem cuidado...


E espero que me retribuas em mais mistério.


***


Há angústia e medo se acumulando pelos cantos;


Há promessa de amor me atravessando o continente


Regando de desejos essas esperanças sedentas e sertanejas.




Hérlon Fernandes Gomes

11/04/13 - Madrugada