terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O VELEJADOR


Eu preciso encontrar essa porção de oceano onde as águas não sejam turvas;

Eu preciso de ventos que sinalizem uma ilha calma. 


Estou cansado de tempestades, de me guiar pelas estrelas pálidas


De quebrar gelo para abrir caminhos que não me prometem itinerários seguros.


Balança minha rede, surpreende-me com um beijo.


Publica tua saudade na areia da praia;


Rompe teu silêncio e me confessas teu amor.


Sem esse porto-seguro, continuarei a velejar pelo desconhecido


Em busca de um coração que me faça sentir abrigado.


Não posso adivinhar teu íntimo quando tua inércia transforma tudo em bruma.


Eu não quero um amor resignado, eu prefiro um amor desesperado


À monotonia do teu enigma de resposta sem surpresa.


***


Cansado...


De quebrar gelo para abrir caminhos que não me prometem itinerários seguros.




Hérlon Fernandes Gomes


La Paz, Bolívia - Abril de 2011. 


(Poema atrasado, resgatado de papéis perdidos)





domingo, 8 de janeiro de 2012

A última lua cheia


A ÚLTIMA LUA CHEIA

Ficou um silêncio tão grande deixado por tua ausência, que minha alma conseguiu ouvir as paredes balbuciarem uma oração de misericórdia a suplicar por teu retorno.

Ficou um frio tão grande nessa alcova, capaz de despertar espinhos na minha pele,

Por isso me cobri no calor do cigarro que odeias, mas aqui já não estavas para insultar meu beijo de nicotina.

Ficou um descampado tão grande neste quarto, que imprime à Nossa Senhora na parede uma maior compaixão por meu desterro.

Ficou um desvão tão grande no meu coração, que preciso me conter para não me evaporar nas lágrimas que se juntam na atmosfera quente desta última lua cheia de dezembro.

Hérlon Fernandes Gomes, Rondônia - 11 de Dezembro de 2011

P.S.: Para Alexsandra Meira Vasconcelos, que tem um coração que pulsa poesia.

Do inédito Lúmen - De corpo e alma - Poemas Profundos.

sábado, 7 de janeiro de 2012

O Medo de Amar





Como te fazer entender que não crer no amor é como permanecer numa espécie de morte em vida?


O que fazer, então, de tudo o que restou de nós? De tudo o que aconteceu e permanece vivo nas nossas saudades, a chamar, como um pedido de socorro, um pelo outro?

Que nome se dará à vontade que sinto por ti, além do gozo, que me faz querer ficar abraçado a ti durante a noite inteira?

Que alquimia faz teu gosto ser agradável ao meu paladar a qualquer hora do dia ou da noite, no despertar e no adormecer?

Dizes que em breve enjoarei de tudo isso, como um brinquedo pelo qual se perde o  encanto e, por isso, assassinas quaisquer possibilidades de felicidade duradoura...

O que faremos então com esse desejo que nos chama? Qual nome terá ele? Chamarei de angústia, chamarei de saudade até quando não nos vermos; até quando não nos encontrarmos, porque sei que depois de cinco minutos diante dos teus olhos estaremos a repetir nosso ritual de entrega, como se teu corpo fosse meu corpo, já que teu prazer tem reflexos iluminados no meu coração.

Meu discurso não é fácil, não é falso... Tua pele sabe a verdade do que sinto; teu cansaço final conhece a poesia da minha atenção.

Tenho medo de que teu medo de amar assassine tua melhor parte, estraçalhe a pureza sublime que conheci no teu despertar sonolento, no teu abraço apertado que mudamente gritava para permanecermos unidos sem tempo.

Eu vou fingir que tudo foi um instantâneo de fotografia, como esse retratos Polaroid que a gente esquece dentro de um volume perdido de enciclopédia e, quando resgatado, tem o poder de rejuvenescer toda uma existência.

Vou fingir não saber o que sentimos e, por não saber que nome dar à torrente de felicidade desses dias que ainda me encanta, dar-lhe-ei teu nome.

Hérlon Fernandes Gomes

Guajará-Mirim, Rondônia, 07 de Janeiro de 2012.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Principado da Paixão





Eu quis repetir em ti um desejo vivido


E sei que em mim estacionou um momento de paz


Incabível no espaço limitado das horas permitidas,


Eternizado no código secreto das minhas lembranças.


Renunciei ao sono


Enquanto afagava tua pele arrepiada por meus carinhos.


E eu poderia ficar assim indefinidamente:


Monge dos teus beijos,


Mucama dedicada a velar por teu conforto,


Meu caro príncipe.


Mesmo se um dia eu for para ti esquecimento,


Em mim, no baú dos sentimentos de luz,


A saudade te reconstruirá completamente para mim,


Em cor, gosto, quentura, cheiro e silêncio.


***


Derramei nas cachoeiras do teu reino as alegrias que transbordaram do meu coração.




Hérlon Fernandes Gomes


Chapada dos Guimarães, Mato Grosso.


31 de Dezembro de 2011.


P.S.: Para você, a coisa mais doce dos últimos dez anos.


Cachoeira da Serra Azul, distrito de Bom Jardim, Nobres - MT.