domingo, 18 de abril de 2010

Crônica de saudades


De repente um nó engasgador na garganta. Uma angústia que é fruto de muito amor deixado longe. Acho que agora posso sentir um pouco do significado do banzo, que matou tantos escravos de saudades - arrancados à força de sua terra natal. Comigo a realidade não é triste, é outra; mas a saudade que sinto de casa não deixa de doer, não deixa de incomodar; embora ela também seja combustível para que eu edifique as promessas que me reservei, seja a intensidade da luz que tenho pedido a Deus para me servir de farol.
Em minha casa eu conheço a direção dos ventos e sei identificar facilmente o Norte e o Sul. Em minha casa existe a cumplicidade muda de todos os cômodos, o reconhecimento de todos os cheiros e gostos: desde o café da manhã até o cheiro verde do jardim regado. Guardo em minha mente um álbum de retratos vivos, em que meu pai joga cartas todas as noites, minha mãe embainha minhas calças na máquina de costura e eu converso com meus irmãos no alpendre... Essas coisas são o que me fazem ser pessoa e me dão significado e significância perante a Existência; são essas coisas que eu tenho como mais primitivas e puras.
Aqui, eu me sinto como uma árvore grande, arrancada de uma terra distante, que precisa de tempo para que suas raízes se acostumem ao novo solo. Minhas folhas estão amarelecidas de saudade; mas meus frutos futuros terão o gosto desse lugar que me viu crescer; minha seiva será iluminada pelos sonhos do sopé do Cariri, pelo afeto que está guardado e vivo nesse lugar que é meu lar perpétuo.

Hérlon Fernandes Gomes

P.S.: Para meus familiares e amigos que estão distantes apenas geograficamente.